Considerações sobre o desempenho e a autoexploração

Israel Alves
2 min readApr 28, 2019

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A sociedade do desempenho e suas implicações

Em um cenário em que o apelo à motivação, à iniciativa e ao projeto é muito mais efetivo do que o chicote e as ordens, nós, “empreendedores”, sujeitos do desempenho, nos sentimos livres para viver uma vida de autoexploração.

“A autoexploração é muito mais eficiente do que a exploração alheia, pois caminha de mãos dadas com o sentimento de liberdade.”

( BYUNG-CHUL HAN: 2012, 22).

Você pode, você consegue

O famoso “você pode” (também conhecido como “você consegue”) acaba exercendo, na lógica de mercado atual, muito mais coerção do que o “você deve” (hierarquia).

A auto-coerção acaba sendo muito mais fatal do que a coerção alheia, pois não oferece nenhuma chance de resistência.

A partir daí,

“Os indivíduos passam a não mais compreender a si mesmos como sujeitos submissos mas como um projeto lançado.”

( BYUNG-CHUL HAN: 2012, 24).

E é justamente aí que o feitiço acontece! Aqueles que fracassam, a desconsiderar todas as variáveis não controláveis, acabam se sentindo culpados por seu fracasso.

Não há ninguém que possa ser responsabilizado por seu fracasso. Não existe, muito menos, qualquer possibilidade de desculpas ou expiação.

Enquanto empreendedor de si mesmo, o sujeito contemporâneo já não é mais um sujeito de obediência. O que lhe permanece oculto, no entanto, é o fato de tal empreendedor de si mesmo não ser livre na realidade.

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Referências

Agonia do Eros, Byung-chul Han (2012)

Imagens, Shopify Summit (2019)

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